23/02/2011

Alta do algodão eleva vestuário em 30%


O insumo, que subiu 161% nos últimos 12 meses, já pressiona os custos das coleções outono-inverno 2011


Tatiana Lagôa - Repórter - 14/02/2011

O aumento de 161% sobre a cotação do algodão nos últimos 12 meses terá impacto nas coleções da temporada outono/inverno 2011. As novas peças, que entram em cena a partir do próximo mês, custarão cerca de 30% mais do que em 2010. E a tendência é que os preços subam ainda mais ao longo deste ano.

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea) mostram que os preços da principal matéria-prima dos tecidos segue em escala crescente no mercado internacional. Em fevereiro de 2010, o algodão era vendido por R$ 1,42 por libra peso, a medida utilizada para comercialização do produto. Agora, o valor se elevou para R$ 3,71 por libra peso. Quando comparado com 2009, período em que ele custava R$ 1,15 por libra peso, a diferença de preços fica com um percentual ainda maior: 222%.

Segundo o pesquisador da Cepea, Lucílio Alves, a explicação para esse aumento é a falta da matéria-prima no mercado mundial. “Com a crise econômica internacional, o preço do algodão caiu muito, o que levou os produtores a reduzirem a produção. Só que a demanda pelos produtos têxteis se recuperou de forma mais rápida do que as expectativas e o mercado de algodão não conseguiu acompanhar”, explica. Com o aumento da demanda interna por tecidos e déficit de algodão no país, a tendência é que neste ano o preço da matéria-prima continue em ascensão.

Segundo Alves, o país produziu no ano passado 1,2 milhão de toneladas de algodão e importou cerca de torno de 50 milhões. A estimativa é que em 2011 sejam importadas 300 milhões toneladas de algodão para atender ao mercado doméstico. “As empresas do setor têxtil estão pagando o preço dessa falta de matéria-prima. Sem condições de absorver todo o aumento, os empresários estão repassando para o consumidor o alto custo do insumo. Como não dá para aumentar em quase 200%, eles estão diminuindo suas margens de lucro”, afirma o pesquisador do Cepea.

O presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário do Estado de Minas Gerais (Sindvest-MG), René Wakil Júnior, conta que as fábricas de tecido já estão vendendo o produto pelo menos 40% mais caro, o que vai elevar o preço das roupas vendidas nesse ano. “Com a indústria têxtil repassando o aumento no custo do algodão, a alta no preço chega à roupa também”, afirma. Ele estima que os preços da nova coleção para o consumidor final estarão com um reajuste de aproximadamente 30%.

O diretor comercial da Coteminas, Mário Sette, avalia que o repasse para o consumidor pode chegar aos 40%. Para ele, essa é uma situação que não deve se modificar facilmente. “As novas coleções começam refletindo esses novos preços e a tendência é continuarem aumentando. Vamos ter que conviver com isso porque a matéria-prima está em um novo patamar de valor”, afirma.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, explica que outra dificuldade enfrentada pela indústria têxtil é a concorrência com a China. “Não dá para concorrer com a China porque ela tem uma série de incentivos governamentais que não temos. A nossa indústria está cada vez mais fraca diante dessa concorrência porque precisamos desonerar nossa folha de pagamento, acabar com os encargos sobre a exportação e ter reforma tributária”, afirma.

Para se ter uma ideia de quanto o mercado doméstico está aberto para produtos estrangeiros, o aumento das importações na indústria têxtil foi de 56% entre 2009 e 2010. Segundo dados da Abit, elas passaram de 192 mil toneladas para 301mil toneladas no período. O país que mais exportou para o Brasil foi a China, que faturou US$ 2,148 bilhões nessa transação. Em seguida veio a Índia, que vendeu US$ 313 milhões para o país.

SHARE:

Nenhum comentário

Postar um comentário

© Blog Chic e Elegante. All rights reserved.
MINIMAL BLOGGER TEMPLATES BY pipdig